Vozes e memórias, testemunhos de uma terra de cultura viva, de gente boa, criativa, nordestina.
Relata-se que, por volta de 1750, o português Antônio Burgos, recém-chegado de Recife, procurou um lugar favorável a sua saúde. Na confluência do Rio Capibaribe com o Riacho Tapera, construiu uma casa de taipa e uma pequena capela, onde entronizou um crucifixo que originou o nome "Fazenda Santa Cruz".
Em 1863, foram doadas terras [no lugar hoje compreendido como centro de Santa Cruz do Capibaribe] para a então Capela do Senhor Bom Jesus, atual Paróquia do Senhor Bom Jesus dos Aflitos e São Miguel.
Logo, vieram os primeiros sobrados do povoado de Santa Cruz, que tornou-se Vila e depois Distrito (1892). Em 1911, o Coronel Luiz Alves, comerciante de tecidos e produtos ruais, ao chegar aqui contribuiu ainda mais para a região, que ganhou ares de modernidade.
Capital, berço de oportunidade
onde a luta pela sobrevivência
fez nascer a luz da subsistência
com sobras de fábricas da cidade.
Viajantes que da inutilidade
recriavam função pros despejados.
Os retalhos que eram descartados
na bagagem, levados como ouro
e as mulheres rendavam o tesouro
que manualmente eram inventados.
[Agda]
Histórias, sensações, lembranças de Santa Cruz do Capibaribe foram e são contadas por muitas vozes. Escritores locais, cordelistas, acadêmicos, artistas, pesquisadores, fotógrafos, todos evocam o imaginário social de um lugar testemunho da história e do fenômeno das feiras de rua, em que se vendiam ou trocavam mercadorias .
Testemunhamos a feira de mangaio, como expressão já imortalizada pela música do mestre Sivuca, na "Terra das Gameleiras" [planta típica no seu pioneiro espaço de circulação, a Rua Grande], com as sobras do roçado ou mesmo outros produtos, como as panelas de barro feitas com a argila do Rio Capibaribe.
Testemunhamos a vila e depois cidade ganhando novos ares, passando a ser conhecida em todo o Brasil como a "Capital da Sulanca", identidade que particulariza esse território por sua expressiva feira.
Testemunhamos o nascimento da feira, desde as cargas nos lombos dos burros até as idas e vindas dos comerciantes locais pioneiros, em seus caminhões com fardos de tecidos entre Recife, Olinda, São Paulo.
Testemunhamos as costureiras, que saíram dos sítios para a cidade começando a costurar, e os mecânicos, que consertavam as máquinas de costura.
Testemunhamos as pessoas que fizeram e fazem a Feira da Sulanca, entre o sol e a sombra das calçadas da Rua do Pátio, Rua Siqueira Campos e de tantas outras ruas, até ser um parque comercial, ser a "Capital da Moda".
[josé romildo bezerra, 1980]
Lonas azuis, as brisas sacudiam
por debaixo de nossas gameleiras
do chão, para os bancos de madeiras
pela Rua Grande se estendiam,
multidões entre os bancos se faziam.
Lá no centro, o comércio foi visado
e o negócio seguiu multiplicado
se afirmando por toda redondeza,
era feira de fruta e miudezas,
de budega, e de roupas misturado.
As peças num balé se contorcendo
entre os ventos de nossa cidade,
pelos ares de prosperidade
que passeavam nos fortalecendo,
o progresso se estabelecendo.
A economia emergente saltando,
representações então se interessando
em trazer as máquinas industriais,
outro passo a abrir largos portais
do avanço que vinha chegando.
[Agda]
Moda Center, grande marco nacional
dos maiores da América Latina,
orgulho da terra nordestina,
base da economia regional,
incluído no comércio mundial
como um dos bravos geradores
de oportunidade e empregadores,
encravado na veia do Brasil.
Nosso centro é um sonho azul anil
construído por nossos moradores.
Suas cores dançam nos varais
dos quintais do solo brasileiro.
Visto do céu, lembra um formigueiro
desenhado com tintas divinais,
aquarela de blocos, numerais,
com suas ruas formando escultura
fios metálicos, base da estrutura,
abrigando o encontro de multidões.
Um universo de movimentações,
de sons e traços, formas e cultura.
[guaraci baldi], 2009]
[arnaldo vitorino, acervo pessoal]
[Agda]
trilha sonora "sulanca" [betto skin, fábio xavier, clécio rimas]